Aos olhos leigos pode parecer que teatro, cinema e televisão são expressões artísticas bem parecidas. Mas como bom entendedor da coisa, posso dizer que são como água vinho e vinagre. Vou me ater aos modos de encenação, que é a parte que me toca e o principal ponto de intersecção entre os três. Até porque é obvio que os métodos de gravação, filmagem e de exibição frente a frente com o público são muito diferentes. Mas a parte que nos toca aqui é postura dos atores nesses meios.
No Teatro o ator está muito mais solto. Seu corpo fala por si: gestos largos, bem definidos e expressivos; gestos de peso. A direção também, apesar de ser bem rigorosa e buscar imediata reação do público, dá ao artista maior liberdade. No palco, o ator é senhor de si. Está ali dando seu melhor e recebendo o máximo da platéia. As exigências de luz são bem menores. A luz no teatro é mais difusa, não precisa de tanta precisão. O campo de visão abrange todo o palco e não traz tantas complicações na marcação. A voz é muito mais forte. O ator explora todas as possibilidades, tem mais potência, e precisa de uma técnica muito mais apurada. A atenção redobra quando estamos num musical. Aqui, os efeitos de estúdio não podem ajudar.
Pra TV as especificidades já aumentam. A direção é mais rígida, a luz começa a dar trabalho, os detalhes são maiores. O ator fica um pouco preso ao seu espaço. A parafernalha técnica pode atrapalhar sua concentração e ele precisa estar bem treinado. Texto na ponta da língua: o ritmo de gravação é muito mairo que o do cinema, gira em torno de 40 cenas por dia. Métodos bem sucedidos nos palcos, como o Stanislavski, podem colocar todo o trabalho a perder. Os atores advindos do teatro sentem muita dificuldade. O corpo é mais parado, a xpressão se concentra na face, mas nada pode ser exagerado. A voz é controladíssima, nada pode ficar fora do tom. Afinal, o realismo está ali, todos os dias na casa do telespectador.
O Cinema é meu caos particular. Digo que a tensão é total e que o auto-controle tem que falar mais alto. Marcações milimétricas, expressões mais que controladas. Tudo é rigorosamente coreografado. Se a luz na TV já dava trabalho, no Cinema nem se fala. A direção é feita com rédeas curtas. O ator desenvolve uma postura muito mais contida, tanto de gestos, quanto de fala. A concentração é absurda: respirar pode fazer mal. Qualquer erro ou princípio de exagero é aumentado com a proporção da tela e se torna gotesco.
Resumindo: no set de filmagem me sinto enjaulado; no estudio de gravação me sinto em casa; no teatro eu quero voar!